Muito além do shot
Destilado mais famoso Do México, a Tequila é redescoberta no
Brasil com a chegada de novos rótulos de luxo
por André Sollitto
até pouco tempo atras, o consumidor brasileiro que fosse ao
supermercado em busca de tequila teria dificuldade para encontrar boas opções. Os
poucos rótulos disponíveis ficavam quase escondidos em algum canto do setor de
bebidas. Sem diversidade, seria preciso se contentar apenas com as versões mais
populares das grandes marcas distribuídas internacionalmente. O consumo era
apenas um: o shot, para ser virado de uma única vez, com sal e limão - e
consagrado no bordão “arriba, abajo, al centro y adentro!” É alguns bares ela
até poderia fazer parte do clássico coquetel Margarita. Mas era só. Agora, em
um novo movimento de redescoberta e de impulsionamento da indústria, o
portfólio de opções tem crescido e, com ele, as oportunidades de descobrir o
destilado.
Faltam dados específicos de consumo no Brasil, que ainda
representa uma fatia bem pequena do bolo. Outros destilados, como vodca, whisky,
gin e cachaça, são muito populares. Mas, seguindo a tendência global,
especificamente a americana, a expectativa é de que o interesse suba
rapidamente. Um levantamento da plataforma Statista Aponta que, em 2013, o
mercado dos Estados Unidos vendeu 13,6 milhões de caixas de 9 l de tequila. Em
2022, o número saltou para 28,9 milhões de caixas. O crescimento foi contínuo
ao longo dos anos, mas acelerado pela pandemia. E tem se mantido desde então, puxado
pela categoria chamada premium, feita com matéria-prima selecionada e maior
valor agregado. Lá nos Estados Unidos, 70% das vendas do destilado pertencem a
essa categoria.
Para entender a diferença entre elas, é fundamental
compreender como a tequila é elaborada. Trata-se de uma bebida com uma rica
história. A tequila é um destilado feito de agave azul, um tipo de suculenta
muito comum no México, mas presente também nos Estados Unidos e, em pequena
escala, na América Central e na América do Sul. As origens remetem o período
pré-hispânico: em 250 antes de Cristo. Os astecas já fermentavam o suco do
agave para produzir uma bebida cerimonial chamada Pulque.
Quando os soldados espanhóis chegaram ao México, em 1519, passaram
a destilar este fermentado, já que não gostavam de seu sabor. Assim, nasceu o
vino de mezcal, em referência ao nome pelo qual a planta também era conhecida. A
primeira documentação oficial sobre a população de Tequila data de 1608, na
cidade de Jalisco. Uma indústria passou a ser formada em torno da reelaboração
do destilado e, em 1890, a tequila se tornou o nome oficial da bebida. Na
língua Nahault, significa “rocha vulcânica”, em referência ao vulcão adormecido
localizado na cidade de Tequila. Em 1902 ,ganhou status de denominação de
origem e só pode ser produzida em Jalisco e em seus arredores.
Oficialmente, a tequila é feita apenas de agave-azul. A
legislação mexicana determina que os produtores podem adicionar à mistura até
49% de outros álcoois, provenientes de cereais ou milho, por exemplo. Contudo, uma
tequila 100% feita de agave tende a ser mais refinada. Há a tequila blanco (no
México, a palavra é masculina), transparente, que não passa por envelhecimento.
Acho que passam por barricas de madeira ganham títulos de acordo com o tempo de
amadurecimento: reposado, de 2 meses a 1 ano; añejo, de 1 a 3 anos; e extra
añejo, acima de 3 anos. E adquirem uma coloração amarelada típica. Há ainda uma
nova categoria que vem ganhando fama nos Estados Unidos, a cristalino, formada
por tequila que passam pelo processo de amadurecimento, mas depois são
filtradas com carvão para ficarem transparentes novamente.
Existe outro destilado feito de agave, o mezcal. Este, no
entanto, ainda não foi popularizado no Brasil e o consumidor interessado vai
sofrer para encontrar uma garrafa à venda. A diferença está na matéria-prima e
no modo de preparo. O mezcal pode ser feito com outras variedades de agave.
Enquanto a pinha do agave é cozida antes de ser fermentada e destilada para
virar tequila, no mezcal ela passa por um processo de cozimento e defumação em
um buraco no chão. O sabor defumado é típico, e a bebida vem sendo explorada tanto
por produtores artesanais, que lançam rótulos feitos com mais de 30 tipos de
agave e brincam com o tempo da defumação, quanto por mixologistas. Na dúvida,
cabe a máxima: nem todo mezcal é tequila, mas toda tequila é, também, um mezcal.
No exterior, a bebida tem sido muito usada na coquetelaria.
Não à toa, a Cidade do México tem 4 bares entre os melhores do mundo, de acordo
com o renomado ranking World’s 50 Best Bars - 2 deles estão no top 10. Em casas
como a Licoleria Limantour, os coquetéis são elaborados com diferentes rótulos
de tequila e mezcal junto com ingredientes típicos de distintas regiões do país,
como Baja, ao norte.
No Brasil, a tendência começa a ganhar força. “Ainda temos 2
grandes desafios para mudar o olhar sobre a tequila”, afirma o mineiro Leonardo
Brettas, diretor da marca José Cuervo para a América Latina. “O primeiro é
mostrar a versatilidade para inúmeros coquetéis além da tradicional Margarita. E
queremos despertar outras formas de consumo, mais próximas de outros destilados
premium, que vão além da velha e conhecida forma de beber tequila em doses”. (...)
O movimento da tequila é tão bom que até as celebridades tem
buscado um pedacinho do mercado por meio de lançamentos assinados. O Astro
Dwayne Johnson, o "The Rock", lançou sua Teremana em 2020 E já vendeu mais de 2
milhões de caixas de 9 litros. O ator Matthew McConaughey e sua mulher, Camila
Alves, também tem a sua própria marca, Pantalones. Mark Wahlberg Investiu na Flecha
Azul, também em 2020, ao identificar uma boa oportunidade de negócios. Os
craques da NBA LeBron James e Michael Jordan tem marcas próprias: Três Lobos e
Cincoro, respectivamente. Até a socialite Kendall Jenner assina a 818 Tequila. Enquanto
elas não chegam ao Brasil, vale a pena guardar um espaço na mala para trazer
algum desses rótulos badalados. Salud!